Se eu usasse sapato.
Recentemente as Anavitória, cantoras essas que cresceram comigo, lançaram um novo álbum, Esquinas, e logo a primeira música “Se eu usasse sapato”, me pegou no pensamento.
“Onde seria possível reorganizar as peças, os astros.
A ordem dos acontecimentos.
Me conhecer num outro tempo, outro contexto, num caminho qualquer.
De um livro escrito ao contrário”.
As vezes eu sinto falta das versões de mim que eu nunca fui, das facetas de mim mesma que abri mão para ser quem eu sou - da Luísa que quer cursar medicina, da Luísa que adora cozinhar, da que escuta sertanejo, da que preferiu o armário empoeirado e não se assumiu, da que preferia brincar acompanhada na infância... Mas como posso sentir falta de algo que nunca fui? Choro pela perda de todas as oportunidades que tive que deixar ir, para correr atrás do que eu escolhi.
Mas ainda me pego pensando, e se eu tivesse mudado de cidade, permanecido na natação quando ganhei aquele torneio, virado bailarina, eu seria mais feliz? Seria famosa?
Não poderei ler todos os livros do mundo, escutar todas as músicas, ver todos os filmes. Reflito sobre as pessoas que nunca vou conhecer, que nasceram distantes, e que o acaso não nos cruzará, um desperdício, encontros destinados a não acontecerem, que talvez pudessem ser devastadores, delirantes.

Dentro disso, A Biblioteca da Meia-Noite foi um livro que me encontrou e me atravessou. Não entrarei em detalhes porque a leitura vale absurdamente a pena, mas em suma, entre a vida e a morte há uma biblioteca, onde você tem a oportunidade de viver diferentes versões da sua própria vida de acordo com outras decisões que você poderia ter tomado durante a sua jornada. Levei um baita de um tapa na cara, esse livro me mostrou o quão a vida seria mais fácil se entendessemos que não existe um certo modo de viver que nos torne imune à tristeza, o que me fez enxergar que, só sabemos o que é a felicidade porque a tristeza existe, só sabemos o que é a raiva, porque a tranquilidade e a paz já nos fez morada.
Espero que existam multiversos, e bibliotecas entre a vida e a morte, e que eu possa ser a versão mais verdadeira de mim mesma, que eu abrace a minha singularidade.
Não tema a vida.
Se você gostou e se interessou pela minha escrita fique a vontade para entrar no meu perfil e visitar, essa é a terceira edição de muita coisa que vem por aí!! ☆
Ficaria feliz em ter você como destinatário ;)



lindo texto!! me lembrou a metáfora da sylvia plath da figueira!
Eu amei, era um pensamento meu também…. As vezes me bate uma melancolia, será que estou sendo a minha melhor versão? E as vezes me pego pensando se eu deveria ter feito as coisas diferentes, mas o que nós somos se não as nossas escolhas? Talvez não seríamos quem somos hoje se tivéssemos escolhido ficar em casa ou um outro filme.